Nota: A resenha do livro foi feita levando em conta sua importância no curso de Publicidade e Propaganda.
Freakonomics: O lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta é uma obra de Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner. Foi traduzido para o português por Regina Lyra.
O livro é uma análise da aplicação dos estudos da economia de uma forma inusitada, inserindo-os em fatos do nosso dia-a-dia numa tentativa de ilustrar como o conhecimento da ciência econômica pode ser crucial para entender e solucionar os diversos problemas que enfrentamos como sociedade.
O autor desta obra é um jovem e renomado economista americano, possui formação na Faculdade de Harvad e Doutorado pelo MIT. Leciona na Universidade de Chicago e recebeu a medalha Clark em 2004, prêmio dado ao economista americano com menos de 40 anos com contribuições notáveis à profissão.
Ele também foi coautor do “Journal of Political Economy” publicado na Universidade de Chicago. E, além de Freakonomics, é coautor da sua sequência Superfreakonomics (2009).
A obra analisada trata os conhecimentos da economia em uma abordagem inusitada aos padrões dessa ciência social. Nela, o autor inicia fazendo uma análise sobre o motivo da significante queda do número de crimes ocorridos em todo território dos EUA durante a década de 90, mesmo com especialistas renomados em diversas áreas do país tendo mostrados dados que comprovariam o oposto. Quando tal queda ocorreu, não faltaram teorias desses mesmos especialistas para explicar os motivos do inesperado resultado, teses que o autor comprova serem em sua grande maioria erradas mas, que por parecerem verdadeiras (graças ao renome dos que as criaram), eram levadas como verdades absolutas sem questionamentos. Levitt critica essas teses, que se baseavam na correlação de dados, e ele deixa claro que “apenas porque duas coisas são correlatas isso não implica que uma delas tenha como consequência a outra”. Por meio de dados e análises, ele comprova que o real motivo da queda de crimes foi a legalização do aborto ocorrida anos antes no país. Tal afirmação recebeu críticas de todos os tipos, mas com os dados e números expostos não havia como negar sua razão. Levitt faz uma análise dos problemas socioeconômicos da humanidade de uma maneira imparcial, livre de preconceitos, moralismos e dogmas, recebendo muitas críticas ao trazer a público verdades muitas vezes incovenientes. “O moralismo representa a forma como as pessoas gostariam que o mundo funcionasse, enquanto a economia representa a forma como ele realmente funciona”. Outro exemplo disto relatado no livro é a comprovação da fraude nas lutas de sumô, esporte que é símbolo do Japão por ser um marco da honestidade e luta digna; ou ainda quando comprova que professores americanos trapaçeavam na prova (equivalente ao ENEM brasileiro) para que seus alunos recebessem notas melhores daquelas que eles realmente eram capacitados. Mas o autor vai além e explica o motivo que leva a tais trapaças. São os incentivos. Somos todos estimulador por eles, são os decisores de nossas ações boas ou ruins, e Levitt afirma que a economia nada mais é que o estudo destes incentivos. Mas eles não surgem espontaneamente, mas são gerados pelas pessoas que nos cercam, desde nossos primeiros anos de idade recebemos incentivos para fazermos ou deixarmos de fazermos determinadas ações, com prêmios pelos bons atos e punições pelos contrários. “Algo valioso o bastante para ser desejado vale a pensa se roubado” ou, nas palavras do autor, a trapaça é (…) um ato econômico: obter mais gastando menos.”
Uma análise mais profunda desses incentivos é abordada quando se relaciona o mercado imobiliário americano com o grupo Ku Klux Klan e, por fim, se percebe que o lucro de venda das casas dos americanos é menor que o lucro de venda das casas de seus corretores. Quando falado sobre o KKK, fica claro a relação dos incentivos em nosso cotidiano: o terror causado pelos membros do grupo era grande o suficiente para que eles amedrontassem a população que perseguiam sem terem que efetivamente realizar suas ameaças (linxamentos, espancamentos, etc). O poder do clã se dava pela informação que eles possuiam (ou que os outros julgavam que estes possuiam). O poder da informação específica passa credibilidade aos que não a possuem, mesmo que aquele que julgámos tê-la não a possua de fato. Acreditamos que um corretor fará um negócio melhor que nós mesmos, uma vez que ele é especialista no assunto, por isso confiamos que necessitamos dele. O corretor, por sua vez, tem como função convencermo-nos de que isto é de fato real, que sem o seu auxílio um bom negócio jamais seria realizado. Esse é o poder da sonegação de informação, e foi disseminando essas informações confidenciais do KKK que o grupo perdeu seu poder sobre a população, pois estes perderam uma das principais armas de incentivo: o medo.
Vai encarar malucos de lençois correndo pela noite?
Tratando-se do mercado imobiliário, parece ilógico pensar que um corretor venderá a casa de seu cliente por um preço menor que a sua, uma vez que seu lucro é diretamente relacionado ao lucro de seu cliente. Entretanto, uma diferença de valores significativamente alta para o cliente (US$10mil, no exemplo) é mínima para o corretor (US$150), essa diferença de incentivos é que faz com que o corretor gaste uma semana a mais de esforços na negociação de sua própria casa.
Outro assunto tratado no livro é a sabedoria convencional. Um saber que “deve ser simples, conveniente, cômoda e confortável – embora não necessariamente verdadeira.”. Essa sabedoria, depois de formada em um grupo, dificilmente é descartada. Ela está presente em nosso cotidiano, e é usada por muitos profissionais (pelos publicitários, frequentemente). O poder dessa sabedoria é narrado em uma análise do poder do crack na sociedade americana dos anos 90, onde uma das principais gangues de Chicago na época foi analisada por um jovem que conviveu com a gangue durante um longo período. O líder do grupo era um rapaz formado em administração, e tal estudo mostrou detalhadamente como o tráfico era estruturado de maneira muito parecida com qualquer grande empresa, com suas subdivisões e cargos estabelecidos precisamente. Após esse estudo ficou claro que, diferentemente do que a sabedoria convencional fazia acreditar, os traficantes em sua maioria não era grandes detentores de dinheiros e luxos. Assim como em qualquer mega coorporação, apenas a minoria no topo da pirâmide estrutural tinha poderes e detinha os grandes lucros, mas toda a grande base que a população americana julgava serem o traficante em si (por serem os que efetivamente interagiam com a sociedade) viviam na miséria e violência.
Quanto vale o seu dinheiro?
Analisando o livro, posso garantir que minha visão sobre o estudo econômico se amplificou de maneira notável. Ficou claro que a Economia vai muito além do mundo das finanças, sendo uma ciência social de suma importância para entendermos nossa sociedade e tentar melhorá-la, uma vez que é um estudo imparcial, onde se trabalha com números e dados que não podem ser distorcidos, se analisados da maneira correta. As análises de Levitt também me serviram para “abrir os olhos” para fatos que parecem ser uma verdade absoluta e indiscutível, quase dogmas, mas que me foram inseridos ao longos dos anos por pessoas que não sabem efetivamente se o que dizem é verdade, e eu absorvi sem questionar sua veracidade. Também percebi, nas palavras do autor, que “é comum uma pergunta simples e curta auxiliar na solução de grandes problemas”, desde que seja a pergunta correta.
Em tratando-se do aproveitamento do livro para o ramo publicitário acredito que os estudos nos dão um conhecimento que julgo delicado, uma vez que sabendo o poder da distorção ou omissão dos fatos temos a capacidade de utilizar essa ferramenta de maneira benéfica ou maléfica para nossa sociedade. Como publicitários podemos transformar meias-verdades em verdades absolutas, distorcendo-as ou as omitindo, e inserí-las na sociedade com os veículos de comunicação de massa, e os exemplos de Levitt deixam claro que isso pode sim ser feito, e uma vez realizado pode gerar consequências dificilmente reparáveis. O modo de pensar simples e direto do autor é muito interessante para a Publicidade, dado que constantemente precisamos achar uma resposta curta e criativa para uma questão grande e polêmica em nosso cotidiano de trabalho.
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