O advento da internet causou grande revolução na forma de se fazer comunicação. Os impactos estão sendo sentidos em ampla escala pela imprensa, principalmente a escrita. A história conta que as primeiras formas de impressão surgiram na China, por volta do século VIII, e levadas à Europa no século XV. Por ter inovado e aperfeiçoado as formas de impressão e tipografia, a invenção foi creditada ao alemão Johannes Gensfleisch zur Laden zum Gutenberg.
Com as transformações causadas pela rede mundial de computadores neste século, vieram grandes dúvidas sobre o futuro dos veículos impressos no mundo. Preocupação que se reflete em recentes números divulgados nos EUA. Houve uma queda significativa de 7% na circulação de periódicos americanos desde o quarto semestre de 2008 em comparação com 2007. De forma oposta, as versões digitais destes veículos tiveram um aumento de 10,5%, o que, aparentemente, nos leva a crer que ocorreu uma migração do papel para as telas de computadores.
Não achei números atuais fazendo referência à queda de circulação de periódicos no Brasil. Mas, tudo leva a crer que esta seja uma tendência mundial e, que, por aqui, acontecimentos semelhantes também estejam acontecendo. Para se ter uma idéia da grandiosidade e da capacidade de atração da internet, separei números que nos ajudam a compreender melhor este movimento.
O Brasil possui um dos maiores mercados de computadores do mundo em número de aparelhos vendidos, atrás somente de Estados Unidos, China, Japão e Reino Unido. Há previsão de que, em 2010, o país passe a ser o terceiro maior mercado, atrás apenas dos dois primeiros citados anteriormente.
Os números do Ibope//Netratings, divulgados no fim de 2008, mostram que o número de brasileiros com acesso à internet nas residências subiu 73% entre o último trimestre de 2006 e 2007. De 22,1 milhões passou para 38,2 milhões. Desde 2007, os serviços de banda larga superaram o número de conexões discadas no Brasil de acordo com o Comitê Gestor da Internet. Entre as famílias com renda superior a cinco salários mínimos, a conexão em alta velocidade já é realidade para 57% das pessoas, uma taxa que atingia 22% em 2005. Para se ter uma idéia, em junho de 2008 foram mais de 10 milhões de conexões rápidas à internet, 48% a mais do que em junho do ano anterior, segundo estudo da consultoria IDC encomendado pela Cisco Systems.
Recentes pesquisas, como as realizadas pela Deloitte (“O Futuro da Mídia”), demonstraram que o brasileiro, que possui acesso à internet em casa, navega em torno de 32,5h por semana. Se compararmos com outros veículos tradicionais, temos que este número é praticamente três vezes maior do que o gasto em frente à TV (9,8 horas/semana). O Ibope//Netratings, em estudo realizado em 2008, indicou que os internautas brasileiros, em novembro, passaram 23 horas e 47 minutos navegando (os dados aqui se referem a todos os acessos, não somente aos realizados em casa). Os franceses, no mesmo período, passaram 23 horas e 45 minutos, e a Alemanha, 23 horas e 5 minutos.
A internet se tornou, entre os meios midiáticos, uma das atividades preferidas quanto se trata de lazer em casa (53%), juntamente com o hábito de assistir filmes. Na sequência, aparecem assistir canais de televisão (46%) e ouvir música (36%). Entre os que assistem TV, dois terços fazem outra tarefa, como acessar a internet e ler e-mails. Estes hábitos foram acelerados com a popularização dos notebooks e, atualmente, com os chamados netbooks.
Para 2009, a previsão é de que o Brasil supere os 50 milhões de usuários, crescimento potencializado pelas classes C e D.
Em recente entrevista à Gazeta Mercantil, o doutor em sociologia pela Universidade de São Paulo e professor da pós-graduação da Faculdade Cásper Líbero, Marcelo Coutinho, disse que, hoje, os setores de mídias e a internet estão fadados a um casamento e que o primeiro está tentando adaptar o tradicional modelo de negócio aos novos tempos. É inegável o avanço da tecnologia e as mudanças de hábitos que proporcionou e proporciona nas sociedades.
Concordo com Marcelo Coutinho. A fusão entre os setores é inevitável e as oportunidades de novos negócios e de atingir o público de forma mais eficaz são maiores do que as perdas preconizadas pelos pessimistas dos setores. A quantidade de informação é gigantesca. Uma simples busca no Google retorna milhares de links com referência ao termo buscado. Organizar toda esta informação é muito trabalhosa e as pessoas começaram a valorizar quem faz isso para elas. Hoje já há vários indexadores de conteúdo on-line, como o Delicious e o Digg, que permitem que você salve o conteúdo ou link de uma matéria e ainda compartilhe com outros usuários. Outro exemplo de meio que faz a filtragem de conteúdo e que tem uma força fantástica no mundo virtual é o blog. Os números do Ibope indicam que 11 minutos online no mundo são gastos visitando as redes de relacionamento e blogs. Os tradicionais veículos impressos também podem se utilizar desta estratégia para manter e/ou conquistar novos clientes. Hoje, quando assinamos o jornal, por exemplo, recebemos várias folhas com notícias de diversas editorias e, muitas vezes, não aproveitamos e nem assimilamos toda esta informação disponível. Futuramente, poderemos receber via e-mail ou acessando diretamente o website do jornal e lermos as notícias que previamente indicamos querer receber. Este sistema já existe, mas ainda não é aproveitado nem gerido pelos veículos de forma precisa.
A grande questão não é se os impressos desaparecerão, mas a forma como eles se organizarão para acompanhar as mudanças, tanto dos novos meios digitais, quanto do comportamento da sociedade. É mais uma questão de adaptação do que de sobrevivência. Vamos aguardar como será a movimentação deste setor, aliás, nós podemos esperar, eles não.
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