Gosto de usar o Facebook para coletar opiniões de conhecidos e desconhecidos sobre os mais diversos assuntos: do casamento gay até o humor de Family Guy, passando por rolezinhos, socialismo e capitalismo.
Mas o Facebook é uma rede social – e em uma rede social cada um publica o que bem entender. Começa um problema de excesso de informação, que vem junto com o desinteresse em determinados assuntos ou opiniões.
De um lado posts que só falam “o brasil PTralha…” e do outro “A tucanada reaça…“. O sempre divisor de águas BBB com sua eterna luta de “vá ler um livro” contra “é entreterimento e isso não me faz burro”. O futebol a trupe fanática, que aparece com piadas e chacotas para aos rivais.
Mas é uma rede social e cada um usa como bem entender. O que pra mim é desagradável e inútil para outros pode ser o motivo de se conectar. Tenho certeza que o que considero entreterimento é visto como idiotice para muitos.
Filtros
Em uma tentativa de otimizar o tempo desperdiçado na rede social, sabendo explorar um pouco o Facebook nós criamos filtros, ignoramos pessoas, bloqueamos notificações e vamos melhorando o conteúdo que acessamos.
Não quero este reaça e suas ideias extremistas na minha timeline.
Pretendo nunca mais ler nada deste homofóbico.
Não quero este socialista contra o capital privado invejando meus negócios.
As publicações deste machista não me incomoda mais.
Filtrar é uma das maravilhas deste tal advento da internet. É tão maravilha que deveria até se chamar o advento do filtro de conteúdo.
Filtramos e aos poucos ensinamos a rede social a nos mostrar apenas o que é de nosso interesse – e ela realmente aprende isso por conta, com nossos likes e interações. Ela sabe quais são seus amigos próximos e quais são suas fanpages favoritas mesmo que você tente manter segredo.
Quando comentei que estava escrevendo sobre o assunto a Bia me recomendou o vídeo do canal Veritasium (disponível abaixo) que demonstra como o Facebook tornou estes filtros parte do seu modelo de negócio. O sistema restringe a exibição da publicação da sua fanpage e você tem a opção de pagar para atingir mais do seu público – um péssimo negócio para qualquer gerador de conteúdo, pois você já penou (ou até pagou) para construir seu público dentro da plataforma. O que é demonstrado no vídeo é o que nós sofremos com a fanpage do Eu Compraria, por isso além de dar o like recomendo que você assine nossa newsletter e acompanhe nosso blog.
O que tem de errado com o Facebook?
[http://www.youtube.com/watch?v=l9ZqXlHl65g]
O vídeo é bem completo e destrincha as motivações de negócio para o Facebook fazer isso, vale a pena assistir. Mas e do ponto de vista do conhecimento e das idéias, é legal esta “barreira” para conteúdo “ruim”?
Câmara de eco
Será que aos poucos não estamos nos “protegendo” de opiniões contrárias a nossa?
Veja mais tirinhas no Caixa Do Remedios
Eu gosto de debates e retórica quando o nível se mantém na divergência e ataque das ideias e não passam para o nível “comentarista de internet” de atacar o oponente ao invés de refutar ou defender sobre o assunto. Acho que debater e entender outros pontos de vista é uma das muitas formas possíveis de compartilhar o conhecimento.
Imagem cortesia do Pinterest da Bia
Ao mesmo tempo que os filtros trazem benefícios do conteúdo “pinçado” no meio de tanto chorume isto gera uma câmara de eco que pode nos induzir, de forma errada e perigosa, a pensar que “somos maioria”, “estamos certos” e que o nosso ponto de vista é o mais comum.
Se não nos atentarmos para este fenômeno nos transformamos na folclórica criatura chamada de “guri de apartamento criado a leite com pêra e ovo maltine”. Argumentar deixa de ser necessário, pois vivemos cercados de concordância. Achamos que o nível intelectual “da internet” está no mesmo que o nosso e acabamos consumindo um conteúdo pasteurizado para cada grupo: dos futebolistas, dos reaças, dos vermelhos, dos nerdão, do esteriótipo que você quiser. Sempre vai ter uma pasteurização esperando por você, cheia de amigos para curtir, concordar e rechaçar qualquer idéia diferente desta maioria. Maioria pelo menos nesta bolha criada pelo advento do filtro de conteúdo.
Mas isto não é exclusividade e nem culpa do Facebook ou de redes sociais. O Google utiliza nosso histórico de navegação, e-mails e cliques em resultados de busca para nos oferecer o melhor conteúdo nos resultados de busca – e ads mais lucrativos e contextualizados no adwords.
Eu acho isso fantástico. Nunca preciso fazer uma busca no Google duas vezes para encontrar o que preciso e não lembro quando foi a última vez que precisei ir para a segunda página de resultados. Mas estes benefícios vem cercado com dúvidas: eu poderia estar vendo um conteúdo melhor? A grama do vizinho é mais verde? Será que todo mundo nesta rede social pensa assim mesmo?
Yo no creo en skynets pero que las hay las hay.
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