Níveis de Identificação

 

Como medir o nível do meu empenho enquanto profissional e enquanto pessoa? A resposta é simples: Equacionando meus níveis de identificação.
Para tal, vamos à raiz etimológica do termo. Identificação significa “ato ou efeito de identificar”, por sua vez, o termo identificar significa 1. Tornar idêntico; 2. Provar ou reconhecer a identidade de; 3. Absorver em si; 4. Compenetrar-se do sentimento ou do pensamento alheio; 5. Confundir-se, fundir-se; 6. Conformar-se.
Ou seja, quando nos identificamos com algo, que não nossa essência, alteramos o código genético moral de nossa identidade, pois passamos a depender de eventos externos, passamos a navegar na superfície, sendo que deveríamos procurar estabilidade nas inabaláveis águas do fundo, serenos como um submarino, sem estar envolto aos caprichos dos ventos, poderosos ventos (fatores externos incontroláveis).
Quando alteramos este código genético moral o qual me referi, estamos vendendo nossa alma e a pergunta passa a ser: Para quem?
Ao nos identificarmos demasiadamente com nossa vida pessoal, corremos o risco de nos desligarmos da sintonia louca a qual todos fizemos parte. Estaremos operando em uma freqüência diferente dos demais, poderemos passar por relapsos, descomprometidos, ou até mesmo negligentes e incompetentes. Uma vez colocaram um Cabeludo com idéias revolucionárias numa Cruz, cuspiram nele, só porque o cara era diferente. Maldita natureza humana.
Em contrapartida, se nos identificarmos demais com nossa vida profissional, embora em total harmonia com grande parte das pessoas, estaremos nos esquecendo de nós mesmos, estaremos integrando um ciclo vicioso que termina (ou começa) nas faltas de diálogos nas refeições em família, na falta de atenção ao filho enquanto o sangue jorra da TV encontrando abrigo no chão de nossas casas, na aproximação do maldito e distorcido network empresarial em detrimento da amizade pela amizade (lembram disso? Muitos nem sabem mais o que é, se perdeu!).
E sabe quando nos percebemos embebidos nesse processo? Quando perdemos nossa identidade. Não somos mais nós mesmos, somos o fulano de tal empresa, o fulano amigo do beltrano, deixamos de ser nós mesmos em um ritmo gradual e imperceptível.
Mas como pode não percebemos tais mudanças? Parece que estamos anestesiados! Justamente, a substância é injetada direto em nossas mentes e alimenta nosso maior inimigo, o ego.  Ficamos indefesos, confortavelmente entorpecidos.
Temos orgulho ao relatar nossa história de vida, de como não tínhamos nada e agora temos tudo. De como tudo foi árduo, afinal isso valoriza ainda mais nossas aparentes conquistas. Não passam de castelos de cartas!
Não podemos esquecer que há uma ordem natural a ser respeitada, precisamos Ser se quisermos Ter, uma conseqüência da outra, pois independente de querermos ou não, Teremos ao ponto em que Somos. Fato, querendo ou não, Teremos.
Não podemos esquecer que nossos bens materiais estão na superfície e servem para nos servir, não nós a eles. São transitórios, vão e vem.
Quando olhamos para nós mesmos, com atenção e imparcialidade, temos a chance de descobrir que o essencial é invisível aos olhos, sentimos com o coração e percebemos que a felicidade não reside no namorado, na namorada, no carro, no apartamento, no emprego, nos filhos nos pais, etc. Reside em nossa essência. Basta decidir, escolher.
A busca por resultados nas empresas passa hoje por um novo paradigma, finalmente perceberam que o centro das organizações são as pessoas, nada novo, coisa antiga, mas hoje parece que faz mais sentido, afinal, todo resto deu errado. Estávamos bem até agora, mas aí veio a crise e as montadoras e seus magníficos sistemas produtivos se mostravam ineficientes como a linha em série de Ford. O que deu errado?
Então se forja um novo discurso de que, o que realmente vale em uma empresa, são as pessoas, algumas chegam ao ponto de mudar as condições de trabalho. Ambientes agradáveis, jornadas ergonomicamente adequadas, pausas e tempos livre para gerar inovação e melhorias. Mas sempre centrado na lucratividade, felizmente ou infelizmente, não importa, ao menos não destituem o ser humano de suas condições físicas e cognitivas. Ótimo nesse caso, sem lucro as empresas não se sustentam, tudo bem então.
Porém, algumas outras, em uma atitude insana, pregam o trabalho por metas, o controle do resultado, o aumento da eficiência. Continuam fazendo a mesma coisa esperando resultados diferentes, se isso não é insano não sei o que é então!
Em meio este cenário, de constantes mudanças e incertezas, cá estamos nós, em uma busca doentia por prazeres momentâneos, por ostentações ilusórias e esquecendo-se do que verdadeiramente importa. E o que importa?
Voltemos ao Níveis de Identificação! Devemos compreender que existem vários níveis de identificação, e não se identificar com determinada situação, não significa desconsiderá-la, pelo contrário, significa manter-se imparcial para uma melhor resolução. A natureza opera majestosa, deixem o barro secar antes de tentar limpa-lo.
Precisamos nos manter calmos, serenos e confiantes. Exercitando a auto-observação, estaremos em um constante estado de vigília com nós mesmos, atentos as manifestações egocêntricas e sempre dispostos a avançar na resolução dos problemas.
Não se identificar significa manter-se em condição de visão holística, vendo o todo, analisando por completo, sem interferências de nossos diminutos psicológicos.
Para finalizar, deixo uma observação: Já que nosso tempo é tão curto, nossa vida tão corrida, e tudo tão louco, porque insistimos em fazer coisas por fazer? Como formigas seguindo o fluxo? Não seria mais lógico se encarássemos cada trabalho a ser realizado como uma oportunidade de superação?
Imaginem se cada tarefa executada, seja em seu emprego ou em sua universidade, fosse encarada como uma chance de evidenciar todo potencial residente em sua capacidade emocional, intelectual e técnica.
Sabe o que aconteceria? Ao final de um período, no caso em uma Universidade, muitos de vocês teriam um portfólio invejável de trabalhos, uma evidencia descomunal do processo evolutivo a qual vocês foram expostos e de quebra, chegariam em fase final de curso com uma maturidade projetual suficiente para usar o tão temido TCC para alavancar suas carreiras.
Os momentos de festa são vitais, assim como os momentos de concentração e empenho, o todos devemos fazer, é nos afastarmos das operações que não agregam valor durante o processo de fabricação.
 
No caso da fabricação do profissional (designer, administrador, engenheiro, arquiteto), o aluno do segundo grau, precisa ser morto, só o que morre pode renascer. Em seguida, ele precisa gradualmente ser modelado fazendo uso de elementos como: Ética, pró-atividade, senso critico, criatividade metodologicamente conduzida e conhecimento técnico.
O controle de qualidade se dá ao longo de todo processo, por meio do setor de anti-idiotices. É um setor que fica na consciência de cada um e faz com que exista uma tendência de afastamento das idiotices da vida.
Mantém você longe da preguiça, da promiscuidade, das drogas e aproxima você de sentimentos como vontade, superação, força, confiança, paz, amor.
Em resumo, afastar-se das idiotices da vida, significa ler mais livros, artigos, revistas, ver menos televisão e estar atento a você mesmo. As armadilhas são prazerosas e sedutoras. Cuidado!
Faço uso daqui de uma passagem poesia musicada de Ewerton Ferreira e Antonio Augusto Ferreira denominada Veterano: “Neste fogo onde me agüento, Remôo as coisas que penso, Repasso o que tenho feito, Para ver o que mereço”, ou seja, passemos todos a repassar o que temos feito, assim compreenderemos melhor a natureza dos eventos em nossas vidas.
Forte abraço a todos, muita força, paz, vontade e luz!
Daniel Quintana Sperb

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