Eu não aprendi nada na universidade…

Esta é uma carta aberta a professores e alunos do curso de Design ULBRA Carazinho, no qual estou me formando.

Calma, não leve o título ao pé da letra.

Colegas e professores, não me julguem sem antes ler esta carta.

 

Dizer que eu não aprendi nada, nadica de nada na universidade é uma mentira.

Eu aprendi, aprendi bastante.

Fiz amigos que provavelmente levarei para a vida toda. Não fiz inimigos e aprendi muito sobre como não fazê-los. Tive ótimos (e nem tão ótimos) professores com os quais pude aprender muito – não somente sobre design.

Aprendi sobre carreira, clientes, relações interpessoais. Conheci pessoas! Networking, se eu pudesse trabalharia muito mais meu networking durante o tempo que estive estudando. Cultivem relacionamentos, é útil, é importante e é muito divertido…

Universidade é um local cheio de mentes geniais, que recebem doses cavalares de informação. Em um curso de design as conversas e os cafés viram insights, aproveitem-os, façam idéias virar projetos!

 

"Você parece gostar da universidade, e porque tanta reclamação?"

Uma das coisas que eu aprendi foi que me matriculei no curso errado.

Ao final de tudo, último semestre, uma dúvida: valeu a pena?

Depende, depende do que eu faria no tempo em que estava lá. Que me ajudou a melhorar, ajudou. Mas não poderia ter sido melhor? Mais produtivo? Com um custo/benefício maior?

Tenho dúvidas se foi a melhor opção. Na verdade, quase não tenho dúvidas de que não foi a melhor opção. E vou explicar.

 

O que você quer da vida?

Você sabe o que quer da vida?

Uma pergunta com vários sentidos, mas você sabe o que você quer fazer  o resto da sua vida? A atividade que te da prazer e que não se tornará cansativa ou enjoativa quando você completar 40 anos e estiver trabalhando?

É isso que você encaminha quando escolhe sua faculdade.

Eu sabia o que eu queria da vida.

Logo que me formei no colégio eu sabia: queria internet. Era iso que eu "sabia" (eu era o tal sobrinho!), era isso que eu vivia e que eu queria aprender a fazer melhor. E aprendi!

Mas definitivamente, não foi na faculdade.

 

Como fui para lá..

Em 2003 estava decidindo que curso fazer, onde moro os cursos são limitados, interior do Rio Grande do Sul. Tinha o curso de Publicidade e Propaganda na UPF – mas conversas e um pouco de informação me fizeram desistir.

Eu não queria ser um publicitário. Produzir jingles, escrever publieditoriais, chamadas, pensar campanhas e ter uma ou duas cadeiras sobre marca, layout para web, com o design visto "mal e porcamente" como definiram, não era o que eu queria.

Eu queria internet, design digital, mídias digitais.

Tomo conhecimento de um curso na ULBRA Carazinho:

Bacharelado – Programação Visual/Mídia Digital

Foi neste curso que eu me matriculei, mas não é neste curso que a Universidade Luterana do Brasil – ULBRA Carazinho vai me formar.


É uma cilada Bino!

 

Me matriculei no curso certo, porém este curso tomou outro rumo. Um rumo que não me agrada nada – e sei que não agrada muitos alunos antigos que só  estão por lá pelo mesmo motivo que eu: estão no final do curso. E pra pegar o diploma é um pulinho, e é isso que vou fazer.

 

Quando comentei que iria escrever isso me questionaram se não seria melhor esperar depois do TCC, quando eu estiver formado. Não!

Tenho certeza da competência e profissionalismo dos professores, nenhuma "reclamação" (se assim posso chamar) deste desabafo é gratuita.

 

Como dizia o título do curso que entrei o foco era Programação Visual e Mídia Digital. Estou aqui, com o documento da minha matrícula em mãos e com toda a Grade Curricular do curso.

Sabe o que é engraçado? As matérias que eu tirei as piores notas são as que NÃO ESTÃO NA GRADE CURRICULAR DO CURSO QUE EU ENTREI. Automaticamente as que pouco me interessavam e eu sofri, sofri de verdade, para estudar e PAGAR por matérias inúteis para a minha profissão (e para o custo de Programação Visual e Mídia Digital).

Você, que está lendo isso mas não é meu colega, imagina o projeto que a maioria dos professores e alunos estão envolvidos? Um carro.

Programação Visual e Mídia Digital para design automotivo e engenharia. Uma evolução SE EU QUISESSE SER ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO, ou designer automotivo.

Caros professores, existe uma "velha guarda" que simplesmete foi deixada de lado na ULBRA, (alguns) alunos que como eu se matricularam em 2004 ou antes estão muito insatisfeitos, pois não estão lá para projetar carros.

Para alguns professores isso pode parecer estranho, mas acreditem, existem pessoas que NÃO ACHAM O MÁXIMO SER UM DESIGNER AUTOMOTIVO, e é verdade.

 

Se você quer ser um designer de produto (automotivo principalmente) o Design ULBRA Carazinho precisa de você, e lá você terá chances de aprender MUITO e sem dúvida sairá um profissional muito competente.

Se você quer estudar design gráfico, não sei, depois de tantas mudanças curricular eu não sei como estão as coisas nos semestres anteriores. Converse com alunos mais novos (e automaticamente mais esperançosos que eu), quem sabe? EU pesquisaria outras alternativas…

Se você quer estudar web e mídias digitais mantenha distância do Design ULBRA Carazinho. Busque outras opções. O extinto Programação Visual e Mídia Digital não é uma opção boa para estudar… mídia digital.

Infelizmente é assim que me sinto em relação ao Design ULBRA Carazinho. E não sou o único.

 

Entrei em um curso e sai em outro

Passei por três (ou quatro? cinco?) alterações curriculares durante meus quatro anos na ULBRA, até onde eu me lembro nunca concordei com nenhuma. Não assinei, por simplesmente saber que as alterações pioraram meu aprendizado e desvirtuaram o curso que eu me matriculei.

Sei que tem muita gente satisfeita, mas e quem se matriculou em Programação Visual e Mídia Digital?

Retiraram cadeiras que eu julgava importantes para minha vida profissional, para eu estudar algumas coisas que ainda não fazem sentido na minha vida profissional, e tenho quase certeza que não serão tão úteis, como:

  • Práticas de oficina
  • Biônica
  • Materiais e processos de fabricação
  • Design de Produto

 

Para isso, os alunos tiveram que abrir mão de algumas cadeiras:

  • Design de site I
  • Design de site II
  • Design de site III
  • Programação Visual I
  • Programação Visual II
  • Programação Visual III
  • Programação Visual IV
  • Programação Visual V

 

Design de site? Tive MEIA cadeira sobre isso. Programação Visual? Contando as equivalências, duas e meia quem sabe?

E o resto?

Entendam que eu entrei em um curso de Programação Visual e Mídia Digital.

Mas agora estou apto a operar diversas ferramentas de uma oficina. Acho muito bom saber isso, mas se um curso técnico de marcenaria é bem mais barato que meus créditos pagos para a ULBRA para estudar Programação Visual e Mídia Digital.

Não gostar de design automotivo é motivo de PUNIÇÃO por aqui. Passei um semestre desenhando carros. Meios de expressão, desenhando CARROS. Biônica, projetando CARROS. Enquanto paguei para estudar Programação Visual e Mídia Digital.

Preciso comentar o meu desgosto ao acordar todo o sábado as seis da manhã para queimar dinheiro estudando uma matéria que profissionalmente não me agregou nada? Nadica. E aí eu penso, eu não aprendi nada na faculdade.

 

Salvem-se

Estou arrependido. Estou arrependido por não fazer valer o meu direito de terminar o curso que comecei. E sei que esse era (É) um direito meu. Ou pelo menos foi um dia, se eu não assinei erroneamente nenhum documento aceitando novas grades curriculares.

Façam valer seus direitos, corram atrás!

 

Aproveitem…

Aproveitem, aproveitem todo o caminho, por mais cansativo e tortuoso que ele seja. Dizer que eu não aprendi nada na faculdade foi apenas uma forma de chamar a atenção e fazer você chegar aqui.

Eu aprendi, e aprendi MUITO na faculdade. Daniel, Júlio, Londero (tu não imagina a falta que fez por aqui!) e Felipe, vocês influenciaram MUITO meu modo de pensar e trabalhar, e foi para melhor. Sou grato a cada noite que passei fazendo trabalho, a cada fim de semana que passei fazendo algum mockup, desenhando, projetando e pensando. Se estou escrevendo isso sem medo, é pela autonomia que todos vocês um dia estimularam.

Aos professores que tive pouco contato, agradeço por me aguentarem, peço desculpas pelo meu desânimo em algumas aulas – NÃO ERA MÁ VONTADE!  Era apenas desânimo, pela certeza que eu deveria estar estudando Programação Visual e Mídia Digital. Agradeço a paciência de vocês.Nunca repeti nenhuma cadeira – mas em alguma eu passei com aquela nota (e jeito) de aluno ruim, despreocupado. Não sou despreocupado, sei o preço de cada noite que pago para estar lá, do transporte ao valor dos créditos, e não sou bobo de não ter vontade.

Aproveitei ao máximo o que consegui, mas eu, você já sabe… me matriculei para cursar Programação Visual e Mídia Digital.

 

Colegas, APROVEITEM ESTES CARAS! Eles tem muito a ensinar,  corram atrás, questionem e dêem trabalho aos professores  – eles adoram isso (se não gostassem de pressão e sofrimento certamente não trabalhariam com design!).

 

Eu ainda não terminei, estou na reta final, TCC, matérias e estágio, se tudo der certo ao final desde ano estou formando e sei que apesar dos apesares, tudo isso vai fazer falta.

 

De um eterno insatisfeito,

Guilherme Serrano.
andafter.org


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