LIDERANÇA e SUSTENTABILIDADE
MAIZA NEVILLE E REGINA C. DRUMOND
“Os problemas significantes que confrontamos não podem ser resolvidos no mesmo nível de pensamento no qual estávamos quando eles foram criados”. Albert Einstein
O que se observa nas organizações é sintoma de mudanças aceleradas e inovadoras, transição que tem se realizado muitas vezes sem a devida preparação daqueles envolvidos neste processo.
Este fato vem acontecendo à medida que o objetivo principal das organizações deixou de ser focalizado somente nos produtos ou serviços para se voltar, prioritariamente, para a construção e a sustentação do poder nas relações e em toda a cadeia de relacionamentos, o que em outras palavras significa estar em coerência com os ambientes econômico, social e ambiental, isto é, ser socialmente responsável.
Liderança sustentável significa preparar líderes para o desenvolvimento sustentável e esta atividade é um grande desafio para todos nós.
Nas organizações, as lideranças promovem mudanças que exigem atenção, comprometimento e engajamento de um grande número de pessoas. Mudar implica não só em aprender algo novo, mas em desaprender algo que já estava lá e que é possível transformar.
As lideranças inspiradoras, comprometidas são comparadas aos jardineiros que plantam hoje as sementes do amanhã e que, ao serem apreciadas e cultivadas, propiciam às pessoas e organizações novas oportunidades para sobreviver, crescer e perpetuar.
Liderança é um tema que desperta paixões no campo da gestão.
Enquanto alguns consideram os líderes os verdadeiros responsáveis pelas transformações, a quem devem ser atribuídos um peso desproporcional e os créditos pelas mudanças, outros dão maior importância aos processos coletivos e consideram que a ênfase no indivíduo não permite reconhecer a verdadeira natureza das mudanças.
Quando examinamos melhor, constatamos que tratam-se de sentidos diferentes dados à mesma palavra: enquanto, para alguns, a liderança resume-se ao conjunto de atributos pessoais, para outros, refere-se ao desempenho ou aos resultados obtidos, caso em que, na maioria das vezes, a liderança é um sinônimo de autoridade, ou seja, o líder é o chefe.
De forma geral, observa-se que é mais interessante falar em liderança e em processos do que do líder – a pessoa. Liderança, em última instância, reconcilia o indivíduo como protagonista com as relações sociais, com os processos e com o contexto maior, o que permite reintegrar, na prática, a dimensão pessoal com a social.
Praticar a liderança – socialmente responsável – no mundo atual significa comprometer-se com o desenvolvimento econômico próspero das organizações, porém, de forma sustentável e justa, o que só é possível com o exercício de uma liderança ética, voltada para uma gestão multistakeholders.
Neste ponto de vista as nossas lideranças devem dar atenção para:
· desenvolver a visão de futuro, usar o pensamento sistêmico e ter atitudes voltadas para a solução preventiva e proativa como princípios norteadores de todas as decisões relacionadas com o negócio da organização e as necessidades de seus stakeholders;
· convergir forças transformadoras da sociedade para a responsabilidade socioambiental, criar uma cultura de sustentabilidade e atuar de forma coerente com esses propósitos;
· estimular a utilização de práticas de gestão coerentes com princípios éticos e atuar permanentemente, em todos os níveis, com uma visão socioeconomicoambiental para, juntos com os stakeholders, agir como autor de mudanças;
· mostrar os benefícios de ser autor de mudanças;
· Atuar em momentos de turbulência na economia na gestão de ameaças e oportunidades. O estilo de liderança, ajustado à realidade e às perspectivas da organização, sintonizado com a visão estratégica e focado na sustentabilidade, gera valor nas dimensões econômica, social e ambiental e contribui para promover um ambiente propício ao crescimento e à inovação onde é significativo trabalhar.
O exercício da liderança depende da competência individual de quem a exerce e, também, da qualidade da relação estabelecida entre pessoas e da exigência do momento, o que contribui para construir a ponte entre o desenvolvimento pessoal e o desenvolvimento social.
Desta maneira o desafio das lideranças no momento atual está ligado a:
• Demandas atuais e Futuras e comprometimento com demandas globais de forma responsável
• Buscar trabalhar com processos inovadores;
• Ter capacidade de reflexão interna e crescimento;
• Estar comprometido com a sustentabilidade das organizações.
Pensadores como Tachizawa, 2004 – já considerava que a responsabilidade social corporativa é ter compromisso com a ética e os valores, conduta e procedimentos que estimulem o continuo aperfeiçoamento dos processos empresariais, tendo como resultados a preservação e melhoria da qualidade de vida da sociedade do ponto de vista ético, social e ambiental.
Já em 2001 Tinoco considerava a responsabilidade social corporativa como aquela que dá ênfase ao impacto das atividades da empresa com os stakeholders, e, que dá atenção a questões econômicas, sociais, ambientais. Em sua governança corporativa enfatiza a gestão empresarial no campo ético, cultural, político e comercial.
Senge considera que no mundo atual, dinâmico que vivemos, interdependente e imprevisível, não é mais possível que alguém resolva tudo no topo da organização. O antigo modelo no qual os líderes pensam e os de liderados obedecem, ou “manda quem pode e obedece quem tem juízo”, dá lugar ao modelo participativo, no qual, buscam-se ações e pensamentos integrados em todos os níveis e com todos os stakeholders – todos voltados para o pensamento sistêmico, com visão compartilhada e aprendizagem coletiva.
As lideranças multistakeholders focalizam o comportamento ético, supervisionam responsabilidades operacionais rotineiras e estratégicas no longo prazo. Formulam e implantam estratégias para impacto imediato e preservação de metas de longo prazo para aumentar a evolução, a sobrevivência e a viabilidade organizacional.
Este estilo de liderança apresenta um aumento em termos de motivação e produtividade, pois gera nos colaboradores mais prazer no trabalho, criatividade e inovação, criando ambientes mais seguros ao correr riscos, nos quais a confiança estabelecida os leva a perceber a ampliação das possibilidades de viabilidade da organização e de conservar o seu emprego no longo prazo.
Bergamini explica que não se pode confundir cargo com desempenho, porque a posição formal do líder não garante o seu verdadeiro desempenho, e diz:
“É preciso que as lideranças tenham uma visão transformadora, não só para diagnosticar as forças e fortalezas das organizações, mas para harmonizá-las frente às oportunidades do ambiente, encontrando formas de inspirar os liderados a enfrentarem esses desafios”.
Na maioria das vezes, o que se observa, especialmente com a crise de valores éticos relacionados com o trabalho, é não haver coerência entre o discurso e a prática dentro das organizações. Assim, conscientizar todos da organização para a importância da cultura organizacional representa um diferencial competitivo. Isto permite à organização ser coerente com seus valores, ter respeito e integridade com todos com os quais se relaciona, isto é, aprofundar-se no entendimento das mudanças organizacionais para que haja comprometimento e se alcance melhores índices de desempenho, para que possa, assim, contribuir na construção de uma sociedade e um país saudáveis.
É importante que o líder atue para que a missão e os valores tão preconizados pelas organizações saiam do papel, saiam dos cartazes afixados nas paredes e sejam divulgados junto aos colaboradores para se incorporarem às práticas do dia-a-dia, juntamente com as estratégias e a razão de ser do negócio.
O papel das lideranças é envolver e comprometer todos os colaboradores para atingir os objetivos organizacionais, independente da hierarquia, porque todos trabalham na mesma direção, compartilham as mesmas metas: todos estão no mesmo “barco”.
Passar do discurso para a prática socialmente responsável significa abrir espaços para o diálogo, gerar confiança e compartilhar informações, estimular os colaboradores a debater, dar liberdade para fazer sugestões e implementar soluções para os problemas que lhes afetam diretamente.
Este processo de comunicação é importante na construção da cultura organizacional. É parte integrante da organização que busca um novo olhar para os negócios, isto é, busca um equilíbrio maior entre o capital, as pessoas e o ambiente socioambiental. O princípio da sustentabilidade deve ser um valor infundido na cultura organizacional e compartilhado por todos que dela participam.
Nessa jornada de responsabilidade socioambiental são muitos os desafios e dilemas para a atuação das lideranças.
Responsabilidade social é a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais (conforme instituto Ethos.SP)
Fonte – Livro LIDERANÇA E SUSTENTABILIDADE – dilemas, desafios e propósitos
Autoras: Maiza Neville e Regina C. Drumond
Informações pelos mails – [email protected], [email protected]
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