Este artigo é uma Resenha Acadêmica de parte do livro de Pierre Lévy, As Tecnologias da Inteligência.
A base da comunicação está no modo que ela é feita. Ela não é simplesmente o ato de transmitir algo, depende muito de como é transmitida, são as ações do comunicador que farão os receptores, interpretarem a mesagem de variadas formas. Ela é feita de clarões, a recepção de diversas imagens (ou palavras, sons, sinais, etc) vai formando redes de significação na mente do receptor. Cada uma das imagens já vistas influenciarão no modo como a nova imagem será interpreptada, do mesmo modo, cada imagem nova remodela a relação que havíamos criado na mente das imagens anteriores.
Assim, uma palavra é nada mais que a associação de diversas imagens, cheiros, sons, em um único símbolo, e palavras somadas fazem nada mais que ir unificando e especificando essas imagens, cheiros sons, em um único símbolo, a fim de chegar em um ponto específico. Isso, no livro, é chamado hipertexto.
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Hipertexto é uma rede em constante modificação, assim como os conceitos que formamos na mente, ele pode mudar inteiramente a cada nova informação. Essas informações, na comunicação, serão multimídias, e seu sistema não possuirá um centro. Cada nó de sua teia pode se revelar toda uma nova divisão de nós, formando uma nova teia pois, no hipertexto, tudo será ligado a algo. Esse dispositivo foi primeiro mencionado por Vannvar Bush, com a denominação de Memex, já o termo hipertexto foi criado por Theodore Nelson, para exprimir o conceito de leitura e escrita informática não linear. Estes pioneiros já em sua época tinham uma visão de projetos com uma amplitude nunca imaginada na época, imaginavam uma interação homem/máquina tão intensa, que ainda hoje não foi totalmente alcançada. Aqui, o termo “hipertexto” não se resume a palavras apenas, mas também a sons, imagens, gráficos e tudo mais que a tecnologia interativa disponibilizar.
Outra grande atração são as diversas interfaces de interação amigável: o uso de ícones, do mouse, a tela gráfica… tudo para ajudar o usuário a agir no computador de modo intuitivo, e possibilitando a cada um modificar a rede como melhor entender, isso sem alterar o modo como os outros usuários verão os diversos recursos de interface, pois as informações seriam armazenadas em cada microcomputador pessoal. Isso só se tornou possível futuramente, com a revolução criada pelos jovens fundadores da Apple, no auge do Vale do Silício. Eles mudaram os níveis de praticidade com o computador ao lançarem o Apple 2, este vinha com memória ROM, possibilitando ao usuário fazer algo produtivo no computador já no momento em que ele era ligado, pois essa memória ROM gravava informações mesmo depois do computador desligado.
A Apple queria atingir um vasto mercado, para isso precisou inovar, e optou por vender o Apple 2 sempre integrado com uma fonte, um gabinete protetor e um teclado; algo inovador em uma época em que computadores eram visto apenas como máquinas de cálculos, e uma das grandes diversões dos jovens era montar seu próprio computador, e não comprar um já montado.
Mais futuramente foi lançado o Apple Macintosh. Este computador já possuía ícones em sua interface, a idéia era simular os objetos do escritório para facilitar o entendimento do usuário (ícones, pastas, documentos, lixeira, etc.). Essas idéias já haviam sido anteriormente planejadas, por Douglas Engelbart, do grupo ARC. Ele imaginava o princípio de coerência das interfaces, onde as mesmas representações e os mesmo sistemas eram usados sistematicamente em diversas aplicações, isso facilitaria muito a interação intuitiva com o computador (algo comum atualmente, por exemplo: o uso da borracha para eliminar/apagar objetos, textos ou imagens é usado em diversos programas).
Esses novos computadores iniciavam a modificação de como se via os computadores, eles deixavam de ser meras “máquinas de cálculos” rígidas e restritas, para serem tecnologias intelectuais, modificando de diversas formas a visão de mundo dos usuários e seus reflexos mentais, criando novos modos de comunicação e organização. Pequenas mudanças na estrutura de um programa ou sistema, podem economizar muitas horas (e despesas) de trabalho árduo à uma empresa, pequenos detalhes de criação técnica na hora de criar os mesmos fazem toda a diferença. O sucesso de muitos programas, por exemplo, se deu devido a atenção em gerar conforto e facilidade ao utilizá-los, pensando em hábitos, necessidades e dificuldades do público. Outro fator importante é o desejo estético; somos atraídos por objetos por sua estética, do mesmo modo funciona para computadores e programas, criamos um maior apego àqueles que achamos mais belos e atrativos, algo que também só começou a ser trabalhado pelos criadores da Apple, que tentaram tornar o computador, tanto a parte física como a virtual, atrativa, habitável e com ambientes amigáveis.
O uso do computador para a comunicação e interação de diversas pessoas é conhecido como groupware, sistemas para trocas de idéias e informações dentro de grupos de pessoas, é o caso do Gibis, usado no Texas em 1988. Pessoas em diferentes locais do mundo, podem interagir umas com as outras, elaborar projetos, discutir opiniões e sanar dúvidas, tudo através da comunicação desses programas. Tudo isso seguindo um sistema pré-estabelecido de atos de linguagem, que todos sigam e todos possam entender, uma linguagem do programa, que deve ser respeitada para todos serem bem entendidos. Cada ação deve ser rotulada com uma cor, palavra, imagem, para que rapidamente seja compreendida aos outros (pode-se comparar com os “fóruns” de internet que temos nos dias atuais, o respeito das normas estabelecidas pelo grupo é que mantém seu bom funcionamento). Nesses sistemas, a discussão é muito mais produtiva que em conversas reais, pois temos muito mais facilidade em contestar discursos que diálogos, temos a liberdade de revisar e repensar o que já foi dito antes com a facilidade de sua organização, algo inexistente numa conversa cotidiana.
Essa interação do hipertexto é feita por associações, o sentido de cada argumento, cada texto, se dá com a relação (os nós) que se cria com outros textos. Cada um vê coisas idênticas de um modo, de acordo com a bagagem pessoal de informações que carrega, essa é a base do hipertexto. A função do groupware é de unir todas essas diversas opiniões e associações, de um modo coletivo, para assim acrescentar diversos modos de pensar a cada um de nós, à fim de multiplicar conhecimentos.
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