O custo psicológico do empreendedorismo

A algumas semanas li um artigo fantástico da Jessica Bruder sobre o “custo psicológico” de ser um empreendedor e o que começou como um comentário no Facebook sobre o assunto acabou virando esta publicação. O artigo foi dica do Thiago (da Kioos) e se você tem uma empresa ou pretende ter uma, vale a pena tirar um tempo para ler o artigo, que está disponível neste link, em inglês. 

O texto é um pouco extenso (para nossos apressados padrões web) mas o assunto é tão fascinante e bem escrito que eu não consegui deixar de escrever sobre ele, mais uma vez contando um pouco da minha pouca experiência – acho que esta é minha forma de desabafar, compartilhar medos e, quem sabe, me manter saudável psicologicamente.

Insônia, ansiedade e euforia

“I’d wake up at 4 in the morning with my mind racing, thinking about this and that, not being able to shut it off, wondering, When is this thing going to turn?”

Eu costumo ter picos de euforia e consequentemente de produtividade, quando estou começando coisas novas ou quando bons acontecimentos aparecem na minha vida (grandes contratos, novos projetos, crescimento pessoal devido a projetos, etc). 

Mas já percebi que o inverso também acontece. Já tive o desprazer do desânimo ser tanto que, onde aconteceria a euforia para os bons acontecimentos acontece a ansiedade quando os problemas começar a aparecer. E a ansiedade surge e bloqueia parcialmente minha capacidade de concentração e raciocínio lógico, que me torna improdutivo. Eu fico de mal humor quando estou improdutivo (e a Bianca sabe!), de mal humor consigo produzir ainda menos. Produzindo menos, minha ansiedade aumenta e a “bad mood” toma conta – e precisa ser quebrada de alguma forma. Queremos resolver problemas e andamos em círculo, sem saber por onde começar. 

Ter auto-conhecimento o suficiente para saber quando é hora de dar um tempo, respirar ar puro ou apreciar um café por uns 30 minutos é importante para quem considera produtividade um fator importante para a felicidade.

O artigo relata alguns casos extremos que acabaram com suicídio e apresenta o ponto de vista do psiquiatra e empreendedor Michael A. Freeman, que explica que alguns dos traços psicológicos comuns que levam as pessoas a empreender: criatividade, pessoas mão-na-massa (leia mais sobre o que define um empreendedor) são compartilhados com indivíduos com tendências a um “lado obscuro” (termo usado pelo autor do texto citado anteriormente) nos pensamentos, que sofrem de ansiedade e pensamentos suicidas. Freeman afirma que o que “dá poder” ao empreendedor pode ser também sua fraqueza. Que coisa de super-herói, ein?

Que empreendedor nunca perdeu uma noite de sono por um problema nos negócios? Eu tenho sorte de ter ao meu lado, na vida e nos negócios, a Bianca. Sem ela tenho certeza que o Eu Compraria não estaria aí funcionando hoje e provavelmente a GS Solutions não teria os projetos e clientes que tem hoje. Já passei mal de querer gritar, chorar e desistir. E só este pensamento de desistir já me carregava de uma culpa enorme por ter falhado. Quando se começa a refletir sobre desistir o pensamento mais recorrente no meu caso era no “tempo perdido” dedicado aos negócios. E olha que estou fazendo um relato de alguém que não tem investidor, que pode correr riscos e sem ser responsável por nenhum funcionário. 

Mal consigo imaginar o que se passar na cabeça de um CEO quando demissões parecem ser uma saída para salvar (ou dar uma sobrevida) ao seu negócio.


Não abra (muito) mão de sua vida pessoal

Eu já escrevi sobre as “penalidades” na vida de quem resolve empreender no artigo “Empreender dói” e um dos assuntos que citei lá é de como podemos nos tornar chatos quando viramos empreendedores, e como é comum “orbitar” em direção a outros empreendedores – o que pode acabar nos afastando de alguns amigos que não compartilham desta mesma experiência e vontade.

Este é um dos pontos em que Jessica e os CEOs consultados para o artigo relatam que é importante não deixar de lado a família, amigos e a vida social em geral. Não consigo nem aproximar a contagem de quantas vezes deixei amizades, planos e até meu namoro “de lado” para cuidar da empresa. Com o tempo isso é extremamente prejudicial pois seu trabalho acaba se tornando sua vida, e se você falha no seu trabalho tem a impressão de que nada mais faz sentido. Um dos depoimentos do artigo da Jessica é exatamente sobre isso:

“I used to be like, ‘My work is me’. Then you fail. And you find out that your kids still love you. Your wife still loves you. Your dog still loves you.”

A vida é muito mais do que o seu negócio e se até eu consegui concluir isso tenho certeza que você também consegue. Eu finalmente parei de ficar ansioso quando não estou trabalhando – provavelmente por uma questão de estabilidade. Estou com projetos legais acontecendo paralelamente com o Eu Compraria, recentemente lançamos o Camiseta Pokémon, eu e a Bianca nos mudamos para Sorocaba e, pelo menos a curto prazo, não teremos problema para pagar o básico para a gente sobreviver (aí está uma vantagem da vida simples, que é mais assunto para um artigo de “lifestyle” do que empreendedorismo, e recomendo a leitura do texto como foi que fiquei rico) . Não arriscar mais do que você tem também torna as coisas mais fáceis (mais uma dica do Poker aplicada aos negócios).

Felizmente acho que já estou um pouco mais preparado psicologicamente do que quando comecei a empreender – e cometi todos os erros que o fracasso me ensinou. Estou cuidando mais da minha saúde: voltei a andar de skate, de bicicleta e a fazer exercícios, também estou comendo melhor e não estou dormindo menos que 7h por dia. O cansaço físico do exercício junto com as reações químicas da endorfina (?) e seja lá o que o fascinante corpo humano faz reduz minha ansiedade, também tenho certeza que trabalhar em casa e sair de São Paulo ajudou neste ponto. E esta é outra dica dos CEO’s citados no artigo:

“You can get into a start-up mode, where you push yourself and abuse your body, that can trigger mood vulnerability.”

E para finalizar este texto, mais uma frase do Freeman: Life is a constant process of trial and error. Don’t exaggerate the experience.


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