CARÁTER – O PAI DA VONTADE

Nossa vida é composta por inúmeros ciclos. Muitas vezes nem percebemos quando se encerra um e se inicia outro, tamanho é nosso nível de identificação com o formato mecanicista a qual estamos emulsionados.

Este texto não tem a pretensão de desencadear o início de um novo ciclo na vida de quem o está lendo, mas sim de provocar uma reflexão, uma auto-análise comportamental, e, quem sabe, iniciar um novo ciclo sim, porque não? Durante estes poucos anos de experiência docente no ensino superior, percebi alguns padrões comportamentais em grande parte dos acadêmicos de 3° grau, também conhecidos como universitários.
 
Ao ingressar no ensino superior, o acadêmico realiza uma transição que nem sempre é harmoniosa. É um processo transitório de renascimento, pois, para nascer um estudante de ensino superior, é preciso que morra um estudante de ensino médio, lei da natureza, só o que morre pode renascer. Compreendamos melhor este termo: Renascer, é nascer de novo, renovar-se, rejuvenescer, tornar a aparecer, ressurgir, germinar de novo, emendar-se, corrigir-se, ou seja, tornar ao estado de graça.
 
Este renascimento pressupõe dor, o processo Revolutivo como um todo pressupõe dores, e muitas são as formas de amenizar estas dores, ou agravá-las. Aqui invocamos o elemento tempo, série ininterrupta e eterna de instantes, medida arbitrária da duração das coisas, época determinada, pois, quanto maior for o tempo desta transição, deste renascimento, mais doloroso será o processo como um todo, justamente em função do avanço dos eventos integrantes da vida acadêmica no ensino superior. Nada pode deter a inexorável marcha do tempo!
 
Muitos dizem que tempo é dinheiro, eu discordo (não precisa discordar, pois tempo também é dinheiro ::matéria:: muito embora possa ser melhor aproveitado em prol de algo além do dinheiro) , pois tempo é muito mais valioso que dinheiro pelo simples fato de não se regenerar. Assim como a flecha lançada e a palavra proferida, o tempo não volta. Perder tempo é perder VIDA! 
 
Cada um tem seu tempo, e não deixo de me questionar como despertar a consciência dos acadêmicos para questões de extrema importância que advêm de dois grandes grupos: O grupo das competências técnicas e o grupo das competências humanas. Infelizmente, o segundo grupo não recebe a devida atenção e comprometimento por parte de muitos / alunos e professores.
 
Conheço pessoas dotadas de extraordinário conhecimento técnico, devoradores de livros, intelectualóides, seguidores de best sellers como por exemplo: “Como vencer na vida com marketing pessoal”, “Como fazer amigos e influenciar pessoas”, isso além dos anos de estudos focado em suas áreas de atuação obviamente, porém, de nada vale o conhecimento técnico sem a inteligência emocional, sem coração, sem emoção. Infelizmente, assim como muitos de nós perdemos a capacidade de se indignar, muitos também perdem a capacidade de se emocionar. Tenho visto pessoas assim construir castelos de cartas, prestes a desmoronar a qualquer momento. São capazes de comprometer todo um histórico profissional em questão de segundos. São egocêntricas, centradas em si mesmas. Conseqüência de uma formação humana deficitária.
 
Nem todas as escolas formam pessoas, cidadãos, assim como nem todas operam com maestria na formação técnica de seus investidores, de seus seguidores, de seus alunos. O fato é que, nas universidades privadas, mais do que nas federais, existe uma certa dificuldade em equacionar os direitos e deveres dos alunos, ou melhor, dos clientes. O aluno cliente é um tipo peculiar, pois confunde seus direitos com seus deveres, esquecendo muitas vezes da maior obrigação de um acadêmico:
A pró-atividade, esta sim, divisora de águas entre o sucesso e o fracasso profissional / pessoal.
 
Nos dias atuais, sou um defensor da formação generalista (a exemplo de países desenvolvidos), pois assim como na Medicina, o designer deve ser antes de mais nada, DESIGNER, com uma visão ampla e capacitada. Um médico não se forma “médico pediatra”, se forma médico, ponto. Na verdade, o grande objetivo do MEC com estes "incentivos" por meio das Diretrizes Nacionais Curriculares, é justamente esse, fazer com que o estudo não pare ao final da graduação, que se façam especializações e mestrados, enfim, sem dúvida, uma atitude acertada e nobre para uma nação que aspira o desenvolvimento. (Já discutimos esse assunto inesgotável em outro momento).
 
E quanto as ferramentas operacionais como Corel Draw, Photoshop, Auto Cad, 3D Studio MAX, Rhinoceros? Bom, aqui fica a mensagem mais importante destas linhas, creio eu, pois, este novo formato de ensino (não é mérito apenas do design, todas áreas passaram por mudanças) não permite formar micreiros, pilotos de software.
 
Devemos formar designers conscientes, despertos. Ensinemos conceitos em design, ensinemos valores humanos, valores que fizeram com que nossa equipe chegasse até aqui. Valores que transformam vidas e agradeço a Deus todos os dias por fazer parte desta história, assim como todos que estão lendo estas linhas, estamos escrevendo a história do design no nosso País! Recebo e-mails com manifestações sobre a importância do Design ULBRA Carazinho na vida dos alunos que são dignos de enquadrar e colocar na parede de casa. Sou um sortudo isso sim!
 
Sim! Mas enquanto aos softwares? Bom, segundo meu amigo Rodrigo Londero, ex-professor e integrante do Grupo Musical VOZ, devemos “lembrar das palavras que fazem o bem, que podem ser doces, ou duras também”, então digo sem restrições: Software se aprende em casa! Com amigos, colegas, na internet com tutoriais ou nas escolas de informática. Aprender softwares na Universidade, além de caro, nos destitui de toda nossa filosofia de formar profissionais autônomos e pró-ativos.
Aos novos marinheiros, à hora é agora, o tempo é esse, aproveite o dia. Vocês estão no início de uma jornada, estão zerados, seus destinos estão em suas mãos, então, não se assustem com os questionamentos abaixo, pois eu adoraria ter sido questionado assim ao início de minha formação, certamente teria um aproveitamento muito melhor do que tive.
 
Aos marinheiros mais antigos, e que responderem “não” a maioria dos questionamentos abaixo, solicito um favor, não percam mais tempo. Transcendamos todos! Anh, e só para constar, lá vai a definição de “transcender” 1. Exceder; ultrapassar. 2. Ser superior a. 3. Ser transcendente; ir além do ordinário; elevar-se acima do vulgar.
 
Vejamos alguns aspectos fundamentais na formação de um designer. Façamos em forma de questionamentos:
 
· Você saberia relatar de forma natural, as origens do design no Brasil e no mundo? Sua importância para o desenvolvimento da nossa espécie?
· Embora um designer não precise ser exímio ilustrador, você está apto a esboçar uma idéia clara por meio do traço, usando papel e lápis?
· Você tem conhecimentos referentes às questões psicodinâmicas das cores? Como, onde e porque aplicar determinada cor de determinada forma?
· Você tem conhecimentos provenientes da semiótica, compreendendo como o cérebro humano opera no processamento das informações?
· Você faz uso de conhecimentos ergonômicos em projetos de interfaces gráficas, produtos e ambientes?
· Você tem conhecimentos na área de sustentabilidade, por meio do ecodesign, ciclo de vida de produtos e impacto ambiental.
· Você sabe fazer uso de preceitos biônicos no desenvolvimento de produtos e processos?
· Você conhece os principais materiais e processos de fabricação? Acompanha novas  tecnologias?
· Você tem conhecimentos básicos em metrologia e práticas de oficina?
· Você tem conhecimento em ética, propriedade intelectual, legislação e acessibilidade.
· Você sabe tratar imagens em softwares como Photoshop ou similares?
· Você sabe desenhar em softwares como Corel Draw, Auto Cad, Blender, Rhinoceros, 3D Studio Max ou similares?
· Você tem conhecimentos básicos em física para gerar bons produtos, com cálculos corretos e precisos?
· Você tem conhecimentos básicos em estatística para gerenciar a geração de boas pesquisas de mercado, levando em consideração seleção da amostra e objetivos de pesquisas?
· Você sabe se relacionar de forma harmoniosa com os colegas construindo um bom net work.
· Você sabe gerenciar crises sem desgastar relações interpessoais? Sabe trabalhar em equipe?
· Você tem o poder da palavra? Sabe se expressar de forma clara, eficiente, fazendo uso de linguagem compatível com seu conhecimento?
· Você já participou de algum Evento em Design?
· Você possui algum Artigo Publicado em algum Evento de Design ou Área Correlata?
· Você possui algum Prêmio ou participou de algum Concurso de Design?
· Você tem opinião própria sobre a Regulamentação da Profissão de Designer?
· Você visualiza a aplicação profissional dos conhecimentos adquiridos nas Disciplinas?
· Você é Pro ativo?
· Você acha que seu perfil acadêmico será igual ao seu perfil profissional
 
Se suas respostas aos questionamentos acima tiverem sido "SIM", parabéns, você tem TODAS CONDIÇÕES de competir de igual para igual com as centenas de alunos que se formam em Design no Brasil inteiro a cada novo semestre nos mais antigos e qualificados Cursos de Design do país.
 
Esses alunos possuem seus currículos cadastrados nas melhores Empresas e Escritórios de Design do país, currículos que, ou evidenciam extrema habilidade criativa e metodológica projetual (Conhecimento em Método Projetual, Desenhos, Renders, inovação, participação e/ou prêmios em concursos) ou possui extrema habilidade científica de pesquisa em Design. (Publicações e/ou participações em Congressos na Área, domínio do Método Projetual aliado a Pesquisa Científica).
 
Agora, se suas respostas aos questionamentos tiver sido "NÃO", corra atrás, provavelmente ainda dá tempo de mudar seu estado de apatia frente a Profissão a qual você escolheu. 
 
Pense bem que tipo de Profissional você será no mercado de trabalho, pois apenas os melhores conquistam seu espaço neste mercado cada vez mais competitivo.
 
"O pensamento esboça uma idéia e forma uma imagem mental; a imagem mental impele o homem ao ato; o ato é a orígem do hábito; a repetição do ato forma o caráter e o caráter é o pai da vontade" (Dr. Jorge Adoum ) 
 
Forte abraço a todos!
 
Daniel Quintana Sperb
Fonte: http://dqsperb.wordpress.com/
 

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