Infelizmente, muitos profissionais envolvidos com a atividade profissional denominada Desenho Industrial/Design, tanto no âmbito do Ensino Superior, quando no âmbito do mercado, julgam perda de tempo discutir a questão terminológica “Desenho Industrial X Design”.
Estranhamente, muitos colegas que defenderam a disseminação do termo inglês (Design) para representar a atividade profissional do Desenhista Industrial alguns anos atrás, atualmente, tem proposto um resgate a esta discussão em função da magnitude dos problemas que esta mudança acarretou.
Evidentemente, a questão terminológica não é responsável por todas as mazelas que temos em nossa atividade profissional, mas seria pretensão afirmar que ela pouco tem a ver com o circo de horrores que temos hoje, tanto no mercado de trabalho, quanto nas escolas que formam profissionais em Desenho Industrial/Design ao nível superior.
Talvez, se tivéssemos, nos últimos 10 anos, nos preocupado com esta questão “pouco importante” e, ao menos no Ensino Superior, tivéssemos cerrado o punho e assumido uma posição a favor da adoção da nomenclatura Desenho Industrial e não Design, não estaríamos hoje covalentes da praga que assola e denigre uma atividade profissional por meio de “designers de sobrancelhas”, “designers de unhas”, “designers de Doces”, “designers de cabelos” e tantos outros “designers”.
A atual geração de profissionais ligados à formação de Desenhistas Industriais/Designers, em grande parte, esqueceu de onde veio, não conhece suas raízes, e um povo sem história é um povo sem cultura, sem base, pois estes profissionais que representam esta Atividade Profissional de primeira ordem e significativa importância para o País, que injeta no mercado de trabalho um número cada vez maior de recém formados, nem se quer tem familiaridade como do americano, Henry Dreyfuss, do alemão, Gui Bonsiepe, do holandês, Win Muller, inglês, Nigel Cross, e dos brasileiros, pernambucano Magalhães, carioca Redig, paulista Wollner, gaúcho Bornancine, e tantas outras legendas do Desenho Industrial/Design, pois a essência está se perdendo, apesar de tantos livros de Design. Faltam-nos raízes, saber onde elas estão é necessário. É como quando brincávamos de telefone sem fio em nossa infância. A mensagem inicial é deturpada ao final, vai se perdendo e realmente, não nos levará a lugar nenhum mapear os momentos exatos onde ocorreram os desvios.
Já estivemos melhores amparados. Seria saudosismo? Façamos aqui uma analogia de um assunto bem compreendido por todos nós brasileiros, pois, assim como não é saudosismo dizer que não temos mais Pelés, Garrinchas, Rivelinos e por aí vai (a lista é grande), acredito não ser saudosismo dizer que não temos mais “Bonsiepes” e “Redigs”, salvo raríssimas exceções. Estaria a essência perdida? Precisariam nossos alunos e professores realizar uma análise diacrônica para compreender “quem somos” partindo do conceito básico “de onde viemos”? Ou seríamos todos como Peter Pan, sonhando com a Terra do Nunca?
Precisaríamos convocar todos os Coordenadores de Cursos de Desenho Industrial/Design para uma grande conferência por meio da criação de um Conselho Nacional de Desenho Industrial e estabelecer o caminho das pedras para o resgate do respeito a esta importante atividade profissional.
Acredito que a responsabilidade dos mais jovens é imensurável, pois, à medida que o tempo passa nosso telefone sem fio vai deturpando ainda mais esta importante mensagem, e nossas maiores referências estão cansando de lutar sozinhos. O Desenho Industrial pede socorro. Não permitamos que o Desenho Industrial seja a terra do nunca dos conscientes que ainda restam.
Daniel Quintana Sperb
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